O ventríloquo e seu boneco.

Por Adeir Alves

 Ventríloquo é aquela pessoa que manipula e dá voz a um boneco sem mexer a boca, normalmente há um diálogo e uma estória entre o artista e o boneco que anima a platéia.

 O ventríloquo é um simples artista que, como outros artistas, desperta curiosidade no público e provoca muitas gargalhadas; e, no pensamento do público: como fazer um boneco falar? Segredo. Coisa de artista mesmo!

Na vida real, casos semelhantes, notoriamente, porém a vida por si só já é uma arte, sobretudo, quando existe um domínio sistemático sobre um boneco, que não sente dor, não tem sentimentos, tudo é espetáculo do faz de conta, o público é apenas meros expectadores que pagam seus ingressos, e demanda certa expectativa a cada espetáculo.

 O ventríloquo manipula o boneco, porém existe um diálogo invisível entre as duas partes no imaginário do público, todos acham graça, mas a manipulação exercida pelo ventríloquo passa batido, e todos acabam por acharem que é realmente o boneco que fala. Mas não é.

 Do teatro à vida real: Na vida real, o boneco sente dor, tem sentimentos, mas é, sobretudo, sistematicamente manipulado com perversidade, lembrando que é só mais uma estória do faz de conta na vida real, na terra dos coronéis. 

No cenário da vida real, a platéia silencia com as artimanhas e o segredo do boneco que fala com sabedoria, mas ao mesmo tempo, é dominado por alguém invisível, diferente do espetáculo da presença de quem comanda o boneco ao vivo e a cores. 

Entretanto no espetáculo da vida real, não há curiosidade por parte do público, em saber como funciona esse fenômeno perverso - um ser humano fala, age e pensa por outra pessoa - se não haver denúncia e um anúncio por parte de quem comanda o show, não há curiosidade por parte da platéia que sempre irá demandar certa curiosidade em silêncio.

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