Havelange, Ricardo Teixeira e a Globo

Por Paulo Nogueira, no blog do Altamiro Borges:

 E a história da Globo versus a Receita vai ficando cada vez mais complicada.

 Primeiro, foi a informação divulgada pelo blog O Cafezinho, do jornalista Miguel do Rosário.

 Uma fonte da Receita Federal passou ao blog documentos que contavam uma história sensacional.

 Por eles, a Globo enganou a Receita na compra de direitos para a Copa de 2002. Para não pagar o imposto devido, segundo os documentos, inventou uma operação que não era a real.


Pilhada pela Receita, a Globo teria que pagar 615 milhões de reais – em dinheiro de 2006 – pelo ‘malfeito’, como é moda falar hoje.

 O UOL foi checar a história.

Inicialmente, recebeu um ‘eufemismo’ como resposta, contou o repórter do UOL incumbido da investigação.

 Depois, como ele insistisse numa pergunta específica – se a Globo fora de fato multada pela Receita –, veio a admissão.

 Sim, fomos multados, admitiu a Globo.

O UOL publicou, e a Globo postou uma nota que dizia ter quitado o que devia à Receita por conta da Copa de 2002. 

 Viria, logo depois, pelo mesmo blog um desmentido. 

 A fonte do Cafezinho na Receita afirmou que a Globo não pagara coisa nenhuma. Um link que vai dar na Receita indica, de fato, que o caso está ‘em trânsito’. 

 Aberto, portanto, não encerrado. 

 A fonte desafiou: se pagou, então mostra o darf (o recibo). 

 Até o momento em que é escrito este texto, a Globo não mostrara o darf.

 Já seria o suficiente para uma compreensível pancadaria moral na Globo: sonegar é um ato de corrupção passível de prisão em muitos lugares. 

 E a Globo se esmerou, nos últimos anos, em usar a palavra ‘corrupção’ em seus ataques às duas administrações petistas. 

 Mas viria ainda mais coisa à cena.

 Foi desencavada, por outro blog, o Blog do Paulinho, uma reportagem do Estadão de 2012. Ela relatava o cerco da justiça suíça a João Havelange e Ricardo Teixeira, então influentes na Fifa.

 Os dois cartolas, segundo a justiça suíça, recebiam propinas em contas no exterior para favorecer interesses poderosos. 

 Por exemplo: garantir que a Fifa decidisse vender os direitos de transmissão de uma Copa à emissora A, e não B ou C ou qualquer outra. 

 Segundo a justiça suíça, citada na reportagem do Estadão, parte do dinheiro ganho em propinas por Havelange e Teixeira adveio exatamente do contrato de transmissão da Copa de 2002.

 Disse o Estadão, com base na papelada da justiça suíça: “Havelange recebeu propinas de uma empresa para garantir o contrato para a transmissão do Mundial de 2002 no mercado brasileiro.”

 Quem transmitiu a Copa de 2002?

 É curioso que, diante de tais fatos, a mídia brasileira não tenha se animado a investigar o caso.

 Perguntei hoje a Sérgio Dávila, editor executivo da Folha, se o jornal não iria fazer nada.

 Se eu fosse jornalista da Folha, me sentiria envergonhado em saber que quem foi atrás da história do Cafezinho foi o UOL.

 “Estamos investigando e, se acharmos que a história se sustenta, vamos dar”, disse Dávila. 

 Um amigo retrucou quando lhe contei isso: “Quem acredita nisso acredita em tudo.”

 Espero que ele esteja errado.

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