CARTA ABERTA A GUAIRA

Dr. Wilker Morais Borges, nas redes sociais: 

Boa tarde à todos! 

Espero que todos estejam bens! 

 Primeiro quero agradecer a Deus pela oportunidade única e ímpar de ter vivido esse momento com pessoas que possuem a bondade no coração. Peço desculpas para os que eu não consegui superar as expectativas. É preciso viver o novo novamente e isso é constante na vida de muita gente mas não é natural, é estranho ter que viver o novo de repente. Guaíra precisa viver esse momento também, o novo trás novas vitórias, novas pessoas e novas conquistas. 

Nesse momento preciso cuidar de mim, do meu psicológico e ficar perto de quem me ama, minha família, esses últimos dias não foram fáceis. Perseguição política por convergir das duras opiniões nos trás consequências irreparáveis. Fui ameaçado por áudio ontem pela manhã que caso eu não saísse da Santa Casa por bem, sairia por mal, a base da Polícia Militar. Lembrando que não sou criminoso para tal ato. Sempre trabalhei com transparência e honestidade, nunca com inverdades. No Brasil, tem-se a cultura do PODER, fica quem eu quero, sai quem eu mando e obedece quem puder. 

 Eu vivi um momento muito ímpar na minha vida, chegava a ficar 21 dias sem ir para a casa, lá em abril, chegando a ficar com 36 pacientes na enfermaria e com PS, sozinho, principalmente aos finais de semanas. É muita ingratidão e crueldade em serem desleais e desonestos. 

 Entrei junto com a NOVA administração, em abril desse ano e me lembro que o único pedido da administradora era para eu poder ficar, pois tinham dificuldades em fechar a escala. Corri os riscos de contrair o vírus ou até mesmo de levá-lo para dentro da minha casa. 

 Tive perdas para a COVID 19 que eu não pude ir porque estava salvando a vida de outras pessoas, me dedicando. Perdi tios, primos e amigos, nenhum desses consegui ir ao sepultamento, por estar em Guaira/SP e eles em Uberaba/MG. Não consegui passar o dia dos pais com o meu pai, não consegui passar meu aniversário com quem me ama, tudo para continuar na linha de frente, salvando vidas e levando conforto aos guairenses, devolvendo seus entes queridos aos seus familiares. 

Em abril, o hospital carecia muito de profissionais da saúde, deixei todos os lugares que trabalhava, a pedido da administração, pela dificuldade de não conseguirem médicos, em meio a um ato desesperador, eu fiquei, dei meu máximo, me entreguei a população, salvei várias vidas, tive algumas perdas e quando perdia, parecia ser alguém da minha família, a dor era enorme. 

 Ajudei a erguer a UTI, a primeira de Guaira, era um novo desafio para todos, não sabíamos como seria. A motivação da minha demissão por parte da empresa gestora da UTI (terceirizada) partiu da administração da Santa Casa e na demissão veio MOTIVOS IRRELAVANTES. Todos os domingos eu tinha que ensinar médicos novos a mexer no sistema, gastando mais de uma hora para tal. A rotatividade de médicos não fixos aos finais de semana é enorme. A dificuldade em conseguir também. Me lembro que fiquei na UTI até as 09 horas de um domingo à espera de uma médica que foi arrumada horas antes do plantão. 

 Já esperava algo pior, a movimentação e mobilidade de me tirarem da Santa Casa era o maior anseio que qualquer um da administração poderia ter, porque vieram de mim, dias antes, vários questionamentos meus para a administração por não concordar com tais atitudes e não podia ser conivente, estamos lidando com vidas. Não podia ter essa morosidade. Acharam um caminho mais rápido de encurta-lo, contrataram um médico para coordenar o PS/PA e a enfermaria gripario que também foi imparcial em todas as suas decisões, arrogante, que foi motivado pela administração da Santa Casa, para a minha demissão (detalhe que não teve nada por escrito, nem verbal, apenas me tirou da escala, sem aviso prévio. Olha que eu fui atrás para saber como seriam os plantões em setembro na enfermaria do COVID). Sem diálogos e sem motivos, culminou na minha saída da Santa Casa além de outras duas médicas, por motivos singulares. Decisões unilaterais e cruéis. Na enfermaria fui substituído por outro médico, amigo do coordenador. Se trata de ingratidão, isso vem de berço, ter gratidão pelas pessoas, quando precisamos. Mas cada um tem a sua criação e sabe depois as duras consequências divinas. O mundo, gira e como gira. Não desejo o mal para nenhum desses seres, desejo paz e amor em seus corações. Tem tempo de mudarem para melhor. A vida nos ensina e aprendemos. Um dia tiramos o tapete de uma boa pessoa e derrubamos ela, mas nunca sabemos o dia de amanhã, será que vão derrubar o seu? As pessoas esquecem que aqui se faz, aqui se paga. Como disse, não desejo o mal para nenhum.

 No último domingo, 22/08, a enfermaria do gripario ficou sem assistência médica, não tinham os dois médicos. Isso mesmo, seu familiar ficou sem assistência médica por 12 horas. O único médico que estava na enfermaria teve que ser remanejado para o PS pois a escala estava faltando um médico na porta, tinham apenas dois médicos e o fluxo estava aumentado. Ou seja, a enfermaria do gripario ficou desassistida por 12 horas durante o dia.

 Lutei bravamente para reversão de toda a situação na semana do dia 16/08, fiz reunião com o prefeito interino, conversei com o Secretário de Saúde, com a administração da Santa Casa, alguns ignoraram outros responderam com um único discurso: “Precisamos cortar gastos! Me solidarizo com essa situação Doutor!”. Entendo que cortar gastos não é aumentar o valor dos plantões, não é substituir médico sem motivo, não é contratar coordenador para fazer injustiças a pedido da administração, não é proibir médicos de darem plantões na Santa Casa, cortar gastos é reduzir o número de plantões e redistribuir entre todos aqueles que ajudaram a Santa Casa quando mais precisaram. Não consegui entender “o cortar gastos”. Não é pagar plantões fantasmas. 

Com a graça de Deus, não cometi nenhuma iatrogenia, muito pelo contrário, salvei muitas vidas e isso me deixa de coração e mente leves. Me deixa em paz comigo mesmo, dei o meu melhor. 

Novamente, quero agradecer a população guairense imensamente por terem acredito fielmente em meu trabalho e que minha jornada curta me trouxe muitos ensinamentos e aprendizados.

 Estou vivendo o novo e Guaira precisa viver o novo também, se é o que me entendem? 

Sou apartidario, mas as eleições estão aí e estão tendo uma segunda oportunidade para uma nova governança que não seja ingrata e injusta, mas que sirva a população. 

Com a graça de Deus estamos vencendo mais uma etapa de nossas vidas, a COVID 19, novamente o novo que nos assombrou por dois anos, parece que está chegando ao fim. 

Estão vendo? A todo instante estamos vivendo o novo e nos readaptamos a ele.

 Um forte abraço e fiquem em paz! Se cuidem! As decisões estão nas mãos de vocês.

Foto e  texto extraídos do Facebook do autor:

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