Por Conrado Vitali, em seu blog
Paulo Gracindo como o impagável "Odorico Paraguaçu": ele, pelo menos, era engraçadíssimo
Paulo Gracindo como o impagável "Odorico Paraguaçu": ele, pelo menos, era engraçadíssimo
Começa oficialmente hoje,7 de julho, a corrida pela sucessão municipal. Na verdade, a disputa da eleição plebiscitária que se avizinha começou bem antes, ainda em 2008, quando de forma inesperada José Carlos Augusto, o legume, virou o jogo , no último mês, sobre o favorito daquela época, o então prefeito Sérgio de Mello, numa eleição de métodos publicitários controversos sobre os quais eu tenho total responsabilidade. Como marqueteiro de José Carlos naquele último mês, como já detalhei em artigos anteriores em meu blog, precisei, de forma cruel e impiedosa, desconstruir a imagem de Mello fazendo ataques muitas vezes injustos mas, naquele momento, extremamente eficazes no sentido de confundir o eleitor, manipulando-o a mudar seu voto em favor de José Carlos. Apesar de dentro da legalidade, foi um trabalho sujo, carregado de ódio leiloado, que eu preciso admitir para o bem de toda a verdade. Lembro-me que o dono do instituto de pesquisa que mostrou-me, no início de setembro de 2008 (eu havia acabado de chegar de Brasília com status de bruxo popstar do marketing político) os números da situação desesperadora de José Carlos, foi taxativo: “sequer se preocupem com Claúdio Armani (o terceiro candidato daquela eleição), o homem a ser batido chama-se Sérgio de Mello”. A partir daquele momento, guardei meus escrúpulos numa gaveta qualquer e parti, de forma absolutamente cruel, pra cima de Mello com o objetivo de transformá-lo num vilão que ele, como todos sabem, nunca foi. Consegui entorpecer o eleitorado no curto espaço de tempo que eu precisava para mudar o destino certo de José Carlos rumo ao abismo. É claro que comemorei aquilo com um grande sucesso profissional mas tratava-se, desde sempre, e também preciso admitir isso, de uma “vitória de pirro”. Para quem não sabe a expressão foi cunhada para identificar uma vitória obtida a alto preço, potencialmente acarretadora de prejuízos irreparáveis e tem como inspiração os erros cometidos pelo Rei Pirro, de Épiro, cujo exército havia sofrido perdas irreparáveis após derrotar os romanos na Batalha de Heracleia, em 280 a.C., e na Batalha de Ásculo, em 279 a.C., durante a Guerra Pírrica. O historiador grego Dioniso de Halicarnasso, ao relatar o alto custo daquela vitória, foi genial e profético: “Os exércitos se separaram; e, diz-se, Pirro teria respondido a um indivíduo que lhe demonstrou alegria pela vitória que "uma outra vitória como esta o arruinaria completamente”.Pois ele havia perdido uma parte enorme das forças que trouxera consigo, e quase todos os seus amigos íntimos e principais comandantes; não havia outros homens para formar novos recrutas”. Pois foi exatamente isso – uma Vitória de Pirro – e nada além disso, o resultado das eleições de 2008. Coloquei um canastrão (aquele tipo de ator medíocre de Hollywood que se esforça para parecer convicente na frente das câmeras mas nunca consegue deixar ser motivo de chacota ) no Paço Municipal. O legume sentou-se na cadeira de prefeito, não cumpriu nenhuma de suas grandes promessas de campanha (como mostrou matéria corajosa deste novo O JORNAL na semana passada) e transformou-se numa caricatura de si mesmo; num personagem mal acabado de Dias Gomes; num arremedo de Odorico Paraguaçu, o hilário prefeito da fictícia Sucupira, a cidade provinciana de “O Bem Amado”, marco da dramaturgia tupiniquim. Odorico, na interpretação monumental de Paulo Gracindo, pelo menos era engraçadíssimo como caricatura dos políticos fanfarrões. José Carlos, legume incorrigível, nem engraçado consegue ser. É uma caricatura da caricatura. Na formação de seu governo reuniu, entre outros gênios da política, uma fauna de derrotados que precisava desesperadamente de emprego,. É claro que isso não ia dar em boa coisa. Transformou sua gestão numa fábrica de asneiras; num governo de Odorico cercado por chihuauhuas inexpressivos e pródigos em produzir imbecilidades. É a Fantástica Fábrica de Asneiras de Odorico e seus Chihuauhuas. Em sua “Vitória de Pirro”, recebeu uma chance de entrar para a história que estava muito acima de suas possibilidades pessoais e políticas. Deixará um legado de “pontos de ônibus” e “pinturas de paredes”, bem ao seu estilo chuchu sem tempero. Teve alguns espasmos de grandeza – como a conquista de uma indústria de alimentos para o município – mas que não se sustentaram como regra e sim como exceção quase inexplicável. Se eu tenho culpa? É claro que sim. Por vaidade consegui vender, nos últimos minutos de jogo, a imagem de um José Carlos que nunca existiu. E para isso, não me importei de ser inescrupuloso, no limite da legalidade, com um Sérgio de Mello sobre o qual já disse muita coisa pesadíssima e com quem mantenho diferenças pessoais quase irreconcialiáveis mas sobre quem, para o bem de toda a verdade, jamais poderei dizer que não é um homem sério e que sempre teve aspirações de entrar, de fato, para a história. Quem sabe, num raro momento de lucidez, Dirceu Borboleta, o principal assessor de Odorico, possa dizer a ele num daqueles espisódios de sinceridade salvadora: “Coronéééél, já chega. Pega o chapéu e sai de cena; o único que vai morrer para inaugurar o cemitério é o senhor mesmo”.
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