Por Conrado Vitali, em seu Facebook
Quando o assunto é imprensa, há duas correntes de ventos contrários que vivem a jogar os papéis no chão na sala ocupada pelo novo prefeito de Guaíra (SP), Sérgio de Mello. Uma é a defendida pelo próprio prefeito: administrar com mão pesada e rédeas curtas sem se preocupar em agradar à imprensa venal; aquela formada historicamente por órgãos de comunicação que sempre mantiveram uma relação de amor e ódio com o executivo de acordo com a quantidade de dinheiro público carreada para seus cofres tradicionalmente combalidos. Para Sérgio é hora de administrar com mãos de ferro, bem ao seu estilo, e dar de ombros para o apetite de jornais e rádios movidos pela “imparcialidade do cofrinho”. Chega a ser óbvio: o primeiro ano de governo, aconteça o que acontecer, terá influência zero na campanha de 2016. Quando chegar lá, o que vai valer – e só isso é o que realmente vale – é o que Sérgio conseguir fazer em quatro anos. Ponto. Portanto, está certo o prefeito ao não perder horas de sono com uma imprensa que, recheada por gordos contratos com o governo anterior, trabalhou, de forma deliberada, para favorecer, com matérias amistosas e ausência cínica de críticas, o então candidato à reeleição José Carlos Augusto. Falta, sobretudo, dignidade e amor próprio àqueles que, há poucos meses, quase se matavam em seus respectivos pasquins e microfones, na defesa indisfarçável da permanência de José Carlos na prefeitura. É compreensível: não há dignidade que resista à oportunidade de tungar a viúva, descolando um contratinho que possa garantir receita para contabilidades que nunca fecham em troca de apoio. A segunda corrente de vento ,em direção oposta, é soprada justamente pelo vice-prefeito, o empresário e pastor Denir Barulho. Para Denir, que sempre manteve uma relação mais amistosa com a imprensa da província, Sérgio deveria manter uma boa relação com todos os órgãos de imprensa; independentemente da postura pregressa destes. Denir está errado. Erradíssimo. Enormemente errado. Mesmo que legalmente enfie dinheiro nos órgãos de imprensa de sempre, frequeses “ad eternum” do dinheiro público, Sérgio sabe que não contará com eles em 2016. São todos órgãos conservadores e o que querem é ganhar agora e depois. Primeiro com Sérgio, em seus primeiros três anos de governo; e depois, no último ano, com os opositores de Sérgio, a elite conservadora da cidade. É como se Denir estivesse chamando Sérgio de otário. Se seguir o conselho do vice, Sérgio vai jogar dinheiro público fora; dinheiro, que aliás, não é dele e nem de Denir, mas da população que, em última instância, vai estar patrocinando uma imprensa vendida e incapaz, pelos próprios interesses e incapacidade de independência financeira, de informar o cidadão de forma isenta. Na lógica do vice, o prefeito manteria contratos com os órgãos de imprensa de sempre mesmo diante da perspectiva de tê-los como inimigos vorazes daqui a três anos. Raposas estão sempre prontas a cuidar de galinheiros. Elas sabem que, ao longo da história, a insensatez humana sempre foi capaz de produzir , contra todas as evidências, situações surreais de quem insiste em acreditar nelas. Se Sérgio entrar nessa roubada será, sobretudo, um fraco, que vergou –se diante da oportunidade histórica que tem diante de si para fazer o que todos os seus antecessores sempre fizeram numa relação sado-masoquista: pagar para apanhar dos chicotinhos incompetentes de uma imprensa miúda, que não sabe escrever e muito menos falar. Talvez o que assombre o prefeito – e isso muito provavelmente faz parte dos argumentos transversais do vice – é o fato de que, durante seu primeiro mandato, governou em pé de guerra com a imprensa. Ocorre ( e Sérgio precisa estar atento a isso ) é que lá se vão mais de 8 anos (contados desde o primeiro dia do primeiro mandato de Sérgio). Muita coisa mudou de lá para cá. Os órgãos de imprensa tradicionais estão mais fracos, em todo lugar. O crescimento vertiginoso do uso da internet pela população está levando ao fechamento, em escala, das versões impressas de jornalões centenários como o Jornal do Brasil; que passou a circular, há mais de um ano, apenas com sua versão eletrônica. O New York Times, um dos mais importantes jornais do planeta, teve sua tiragem impressa reduzida à quase a metade; fato que o levou a investir pesadamente na edição eletrônica. Se é assim em todo o mundo porque será diferente num vilarejo metido a besta? Hoje as redes sociais ( e elas continuarão existindo no ritmo morre uma nasce outra) informam com muito mais rapidez do que a própria imprensa. Você, leitor, que apesar de me odiar, segue meus posts com disciplina militar, sabe muito bem do que eu estou falando. Quando você lê um órgão de imprensa “amigão monetário” do poder, sabe que tem em mãos um pedaço de papel pago com dinheiro do seu bolso. É como se você fosse outro otário. “Estou pagando por um jornal cuja linha editorial é patrocinada pelo dinheiro público; ou seja, estou pagando, feito um idiota, um Eremildo da vida, para que mintam pra mim”. Ora, se a população já cultiva a percepção de que órgãos de imprensa venais não são confiáveis, por que gastar com eles? Ato contínuo, o apoio deliberado de Denir a passar a mão na cabeça da “impren$a” pode esconder o desejo inconfesso do vice de não desagradá-la em função de projetos pessoais futuros. Algo do tipo “se eu vier a romper com o Sérgio terei o apoio deles”. A rigor, pelo menos por ora, parece estar vencendo a corrente mellista. O prefeito, conforme revelado primeiro por este colunista, vai criar o Diário Oficial do Município e tirar, de uma vez por todas, dos jornais privados, a prerrogativa chantagista de publicar os atos e fatos do poder executivo. Mandou bem mas não poderá parar por aí. Terá de acreditar que governando com competência , fazendo história e utilizando a tecnologia – como as redes sociais e o uso ostensivo da internet como um todo – pode dispensar os anacrônicos vendilhões da imprensa bege.
Abaixo, “Eremildo, o Idiota”, personagem criado pelo jornalista Elio Gaspari para satirizar os que usam indevidamente o dinheiro público. Nem Sérgio de Mello, nem você leitor, podem olhar no espelho e ver um Eremildo.
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