EM GUAÍRA, OS SEVERINOS DA CÂMARA QUEREM VER A LIBERDADE DE IMPRENSA NUMA POÇA DE SANGUE

Por Conrado Vitali de Oliveira, nas redes sociais:

 Só querem. Mas como todo habitante do Jurassik Park da política, vão acabar como todos os seus irmãos do período Cretáceo....extintos e esquecidos. A colega Monize Taniguti, jornalista destemida dona do jornal que mudou a história da cidade a partir de denúncias que derrubaram o governo José Carlos Augusto, comparece nesta quarta,27, às 11h10, na Delegacia de Polícia de Guaíra. Vai prestar esclarecimentos sobre boletim de ocorrência registrado pelos Severinos da Câmara Municipal que, inconformados com a cobertura crítica de O JORNAL sobre os trabalhos do legislativo, tentam intimidar a conduta democrática da imprensa livre. Os Severinos, iniciados na patética arte de chafurdarem no ridículo, alegam que O JORNAL incitou a violência ao prever que na votação da reforma administrativa proposta pelo governo Sérgio de Mello poderia - como já aconteceu em outras “Casas de Leis” pelo Brasil afora – haver quebra-quebra. E poderia mesmo. Não houve por pouco.
A parte lúcida do parlamento guairense tratou de aprovar a modernização da máquina pública evitando assim a revolta popular que se anunciava. Escaldada pelo acinte de práticas espúrias, acordos políticos lamacentos e o deboche bandido de homens públicos que se julgam acima do bem e do mal, a sociedade brasileira, fartamente informada pela era da comunicação instantânea e das redes sociais, tem se recusado, finalmente, a desempenhar o papel de vaca de presépio. O nível de tolerância dos brasileiros , agora muito melhor e mais rapidamente informados, está baixíssimo. O pavio do povo, já não era sem tempo, ficou curtíssimo. Com isso, o espaço para manobras parlamentares que ofendem a inteligência da população ficou tão exíguo quanto o buraco de uma agulha. Não dá mais para passar um camelo de cinismo por ali. O delegado que vai interrogar Monize nesta quarta-feira é o mesmo que concluiu, num inquérito recheado de furos prosaicos e marcado pela velocidade cósmica incomum de “encerramento das investigações” , pelo “envolvimento” da jornalista no famoso caso do sequestro e espancamento de Taniguti durante a campanha eleitoral do ano passado. O delegado que vai ouvir Monize nesta quarta também é o mesmo cuja voz, dando a “sentença” da “culpabilidade” de Monize, foi parar nos carros de som da campanha do então candidato José Carlos Augusto, cujo resultado do “inquérito-relâmpago”, acreditava-se, favoreceria. A estratégia cachorra não durou muito. À época, estarrecido pela situação surreal da voz de uma autoridade policial no carro de som de um candidato, o juiz da comarca deu ordem para se por fim ao desplante. É neste clima absolutamente contaminado e incapaz de exibir qualquer atmosfera de isenção necessária, que Monize, cujo jornal feriu de morte interesses econômicos e políticos dos poderosos da cidade, será ouvida nesta quarta. Trata-se de mais uma tentativa, já de antemão fracassada, de impor constrangimento e humilhação à comunicadora que toca, com heroísmo, um jornal que tem a coragem de mostrar a cidade sob um prisma que todos os outros órgãos de imprensa da cidade, mergulhados em interesses financeiros, familiares e políticos, não podem praticar. Costurem comigo. Na semana passada, Monize recebeu uma ligação do assessor de imprensa da Câmara, mais um lacaio da mentira oficial pago com dinheiro público. Ele queria, veja só você leitor, “obrigar” Monize a publicar a deplorável “Resenha da Câmara”, a cobertura festiva do “trabalho” dos vereadores produzida pelo próprio parlamento, “sem modificações”. Quem o franguinho pensa que ele é? Que está conversando com órgãos de imprensa acostumados a beijar os pés do Presidente da Câmara em troca de contratinhos de fome? Descaradamente orientado pelo mesmo presidente que comandou a operação de intimidação e perseguição da imprensa livre, o assessor “O chefe me mandou dizer isso” alimentava a ilusão patética de que Monize pudesse aceitar aquilo. Recebeu um sonoro e redondo não. O JORNAL não publica a Resenha da Câmara do jeito que ela chega à sua redação. Muitíssimo pelo contrário. O JORNAL publica o que está por trás da Resenha da Câmara; O JORNAL publica o que a Resenha da Câmara quer esconder. Em Guaíra, os Severinos da Câmara querem ver a liberdade de imprensa numa poça de sangue. Não conseguem aceitar que o município passa por uma revolução histórica. A Bastilha caiu. A elite perdeu o controle sobre o município. São novos tempos, que nascem a partir da esperança; da vontade popular soberana de mudar; do desejo ardente de colocar os coronéis e seus filhinhos mimados no coto da história, de onde jamais deveriam ter saído em função da miudeza de seus princípios e estreiteza política conceitual de sua visão de mundo. São tempos em que delegacias de polícia, em qualquer lugar do país, não podem funcionar como porões do DOPS comandados por Fleurys da ditadura a serviço do autoritarismo e da perseguição a Marighellas que ousam contar a verdade, sem a maquiagem pesada dos textos oficiais e seu objetivo delinquente de ludibriar a população. Por minha orientação, Monize comparecerá à delegacia de polícia devidamente acompanhada de um advogado para evitar qualquer tipo de abuso por parte da autoridade policial. Da mesma forma e também por minha orientação, O JORNAL vai aprofundar a investigação crítica sobre os bastidores da Câmara Municipal de Guaíra. Moções de repúdio, boletins de ocorrência e telefonemas de lacaios estão longe, muito longe de fazer com que interrompamos nossa cruzada pela verdade. Como me disse, na semana passada, o Procurador de Justiça Rogério Greco, um dos maiores penalistas do país, durante encontro que mantivemos aqui em Brasília, o direito penal no Brasil é seletivo; ele escolhe quem quer condenar. Para Rogério Greco (autor de uma monumental bibliografia conhecida por toda a geração de advogados brasileiros graduados nos últimos 20 anos), a classe média alta e a elite ainda estão, em sua maioria, protegidas pelo dinheiro, fora do alcance do Direito Penal. Para Greco, as coisas vem mudando. A democracia, consolidada pela constituição de 1988, tem um importante papel na correção dessas injustiças. E a imprensa livre – a mesma que os Severinos da Câmara Municipal de Guaíra querem ver numa poça de sangue – tem um papel fundamental neste processo. Na foto abaixo, converso com Rogério Greco, um dos maiores juristas do Brasil, durante encontro em Brasília na semana passada: para ele, o Direito Penal é, sobretudo, excludente e seletivo

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